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Brasil, capitalismo gerenciado por marxistas: uma história de êxito.

Em dezembro de 2003, quase um ano depois da posse do sindicalista Lula da Silva, eu estava na zona VIP do Aeroporto Internacional de São Paulo e comecei uma conversa fortuita com um alto dirigente de um dos maiores bancos do Brasil, bastião da oligarquia brasileira e mantivemos uma longa conversa dado que os vôos de ambos estavam atrasados. Sinal comum nos aeroportos do Brasil: atrasado ou cancelado.

A conversa se estendeu e ele ao saber que eu não morava no país, se sentiu mais libre para confessar os podres do regime que apenas começava: pois disto se tratava, um novo regime acabava de iniciar-se e eu conhecia a muitos dos novos protagonistas, dos novos donos do poder desde meus tempos de jovem ativista estudantil. Todos eles formados nas velhas escolas de Moscou, Pequim ou Tirana (sim, Tirana na velha stalinista Albânia, alguém se lembra?). Agora eles eram os que mandavam num dos maiores e mais ricos países do mundo em conjunto com a mais cínica, cruel e frívola burguesia que eu conheço no mundo inteiro. Como se gerenciaria o caos de uma pequena oligarquia separada por um abismo da classe média e da imensa maioria de pobres miseráveis? Segundo minha recente nova fonte de informações, um acordo de cavalheiros entre o PT (Partido dos Trabalhadores), a Federação brasileira de bancos (FEBRABAN) e a FIESP (Industriais de São Paulo) havia sido fechado no inicio de 2002: Lula jurou obediência às regras do sistema vigente e renunciou ao socialismo.

real X Dollar

O acordo consistia que o PT não mexeria nas bases do sistema: propriedade privada, sistema bancário, na Justiça (uma piada ao conceito de justiça em si mesma) e na estrutura parlamentária (uma quadrilha de políticos corruptos e corruptores) e calaria as centrais sindicais (todas sob o domínio do partido) de ações agressivas, greves, e outras ações contra os detentores do capital. Assim sendo, eles não impediriam a eleição e posse do “cara” como Obama se referiu à Lula durante uma reunião em Washington.

O “cara” foi eleito e herdou uma crise brutal do seu antecessor. No entanto aquela crise era remanescente da recessão de 2001 que se alargou até 2002 e o sistema bancário nacional e internacional não perdeu a oportunidade de lucrar com a inseguridade de seu possível novo governo e especulou brutalmente contra o real e o mercado de ações. Aquelas ações trouxeram lucros inauditos. O real chegou à cotação de 4/1 dólar. Hoje, ao final de 2010, o dólar luta para manter-se por encima de 1,50 reais/dólar.

As greves cessaram, o movimento dos “agricultores sem terra” foi apaziguado com promessas inócuas e falsa e principalmente, Lula começou a tecer uma teia de aranha de alianças políticas no Congresso para poder governar. Ele não tocou nas privatizações levadas a cabo pelo seu antecessor nem muito menos nas remessas de lucros das multinacionais. Comprou com dinheiro, através de um complicado esquema de desvio de dinheiro público manejado por seu braço direito e antigo “companheiro” José Dirceu que comandava a temerária “Casa Civil” para obter os apoios necessários no Congresso. Voto a voto, bilhões de dólares mudavam de mão e assim o país se “estabilizou”. O Ministério da “Casa Civil” é uma espécie de primeiro-ministro não oficial que concentra quase todo o poder que emana da Presidência da República. Conseguiram assim comprar o apoio de deputados da mais vasta gama ideológica, incluídos os antigos aliados até inimigos históricos de extrema-direita. O capitalismo com um toque marxista aplicado na medida “justa”.

Quando um dos participantes do esquema, descontente com a parte que lhe cabia, resolveu delatar a mega fraude, praticamente todos os ministérios se viram involucrados (todos ocupados por antigos comunistas e direitistas comprados a peso de ouro), o todo poderoso José Dirceu saiu de campo e no seu lugar entrou a tecnocrata Dilma Rousseff, eleita presidente do país no dia 31 de outubro de 2010. Ela assumiu o comando da “Casa Civil) e seguiu a pauta de corrupção e clientelismo no seu caminho em direção ao tope. Ela assim como Dirceu procede de um terrível passado ideológico totalitário e de guerra de guerrilhas. Mas quem se importa com isto? Certamente, nem os industriais nem banqueiros e muito menos os pobres miseráveis?

Bolsa Familia


“Nunca antes na história deste país…” se transformou em uma piada popular dado que Lula utilizava o bordão em oito de cada 10 frases que pronunciava em seus discursos pelo país afora. Foi desenvolvido um pacote de altos níveis de carboidratos, alto índice de colesterol e um mínimo de vitaminas e proteínas chamado “Bolsa Família”: um pacote ração quase que animal distribuído para 11 milhões de famílias em todo o país. Nas áreas miseráveis do Norte e Nordeste, Lula está somente abaixo de Deus no imaginário popular e em algumas partes acima do próprio Jesus. Nunca antes na história do país, houve um governo que desse nada gratuito a ninguém, nem sequer milho seco. Nunca antes na história do país os lucros haviam sido tão altos que a crise de 2008 por pouco não encontra o país no mapa do mundo e passou remotamente pelas suas costas atlânticas sem tocar terra. Obama deveria ter passado mais tempo com aquele político analfabeto para aprender como fazer tão pouco e aparentar ter feito tanto ao mesmo tempo.

Bandeira Comunista

Bandeira Comunista

Corrupção, partidarização disfarçada das agências reguladoras do país, liberdade empresarial combinada com generosos subsídios para os ricos de sempre e migalhas de pão velho para os pobres e para completar, uma loquaz redefiniçao do que é ou não classe média (a real classe média foi quase eliminada e os pobres passaram a ser definidos como classe média); tudo combinado com o domínio da elite da nova velha guarda comunista fizeram daquele governo o mais popular da história brasileira e todos estes elementos me fazem refletir. Brasil tem um capitalismo selvagem dirigido por marxistas fantasiados de democratas. China é um país comunista governado por tecnocratas formados pelas melhores escolas do Ocidente Capitalista e ambos os países têm em comum um espetacular crescimento económico, corrupção abundante, desigualdades sociais extremas, porém “a crise” se transformou em um conceito estrangeiro naquelas paragens. Ao mesmo tempo em que nos Estados Unidos um presidente intelectual (porém péssimo político) e uma classe social altamente educada e com auto-estima exagerada perde estrepitosamente as eleições de dois de novembro de 2010 para os corruptos republicanos e Europa é refém de uma inoperante classe política (de todos os matizes partidários) altamente educada nos princípios do capitalismo equitativo e “justo”. O que está errado neste cenário?

De todos os modos e com todos os meios, Dilma Rousseff foi eleita a primeira mulher presidente do Brasil (terra de machos onde estes machos se disfarçam de mulheres durante o carnaval e se comportam da maneira mais estereotipada possível); ela que nunca foi eleita para nada em sua vida, que foi educada burguesamente, mas acreditando no dogma marxista-leninista que somente o “partido” pode conduzir as “massas” e sendo um fantoche de Lula terá alguns problemas para resolver: Lula formou uma aliança estreita com seu colega presidente do Irã, Ahmadinejad e o Brasil

Lula Ahmadinejad

Lula Ahmadinejad

estabeleceu contratos de cooperação com àquele país que executa à mulheres de forma vil. Será que ela abaixará a cabeça, com o véu mulçumano posto e não olhará nem dará a mão ao seu colega iraniano na próxima vez que se encontrarem? Ela defendeu durante toda a sua vida o direito ao aborto às mulheres que assim o desejassem, porém o negou com todo empenho ao final da campanha para somar o voto religioso… Pragmatismo e dogmas. Talvez esta seja a chave da saída desta crise mundial, porém poucos sabem combinar a dose de cinismo ideal a ser aplicada. Um mistério que permanecerá por algum tempo ainda.

OS DIREITOS CIVIS NÃO SE TROCAM PELO COPYRIGHT

December 6, 2009

Traidor, ingrato, miserável, vil entre outros nomes piores me cairam encima desde que decidi fazer pública minha posição com relação à guerra desatada entre os “guerreiros do copyright” e os “libertários digitais”. Acho que muita gente tem sede de sangue em toda esta história então vamos lá. A cada qual a porção que lhes cabe de seus próprios venenos. Que não haja dúvidas, eu apoio integralmente o Manifesto espanhol pelos direitos civis na Internet.

O que se joga nestes momentos na Espanha é algo muito mais profundo e delicado que um simples jogo de “gato e rato”: esta “pequena” guerra neste pequeno país chamado Espanha que sei que mais da metade da humanidade ignora sua localização no mapa mundi e um porcentagem muito maior ainda a sua história de mais de 2 milênios. Sim, dois milênios é muito tempo para escrever um post num blog então vamos ao ponto: em 1936, uma golpe de estado fascista jogou o país numa sangrenta guerra civil e a Europa e o resto do mundo viraram as costas como se não estivesse acontecendo nada. Era a “Espanha” e era o seu problema “interno”. Trinta e nove anos de ditadura cruel se seguiram aqueles dias de indiferença. En 1936, Alemanha e Itália apoiaram os fascistas e bombardearam a população civil em um banho de sangue até então jamais visto pela humanidade. Quando em 1939, Hitler colocou fogo na Europa e depois em todo o mundo, as potências mundias já sabiam ao que esperavam pois o tinham visto acontecer na guerra espanhola. Esta imagem histórica e seus paralelos não me saem da cabeça.

Guernica

Guernica de Pablo Picasso

Depois de trabalhar muitos anos na “industria” do entretenimento, no cinema, música, etc. e também de vender meu sangue de maneira estupidamente idealista para “pequenas empresas” ondei ocupei distintas funções em diversas posições, reuni os conhecimentos e me dei conta de todos os truques que podem ser jogados e efetivamente são jogados por todos os jogadores nas produções de cinema e música, entre outros: do autor ao distribuidor, passando pelos produtores e diretores e quase sempre também pelo (a) secretário (a) de produção. Por exemplo, nunca vi uma “liquidação positiva” que é a conta final da exploração de um filme depois de descontados até o valor do estacionamento de quem trouxe o papel e o cafézinho que tomou antes de entrar na produtora e que se este valor estivesse “positivo” devería ser pago à produtora.
Mas tal coisa, a dita “liquidação positiva” simplesmente não existe. Inclusive se houvesse centavos à esquerda, estes desapareciam no ato. Se descontaría alguns DVDs de cortesía (não se sabe cortesía à quem) mas sempre no final, a produtora ainda deve à distribuidora. Se por ventura houvesse dúvidas ou ganhos, estes sumiriam em gastos de representação e desenvolvimentos de futuros projetos e ponto final. Reset na máquina e se recomeça de zero e todos amigos como sempre. Sem lucros, e ninguém lucra, não há impostos a pagar. Assim se joga o jogo e a vida se vive em “business class” e hotéis cinco estrelas. Paga o fisco. Versão oficial? “Se está desenvolvendo futuros projetos e há necessidade de viajar sem parar”.

Os produtores distribuem migalhas aos roteiristas e diretores, pagam suas prestações, até lhes compram comida no supermercado nas horas “duras” e assim os mantêm nas coleiras e “eternamente agradecidos”. Mentira, estes trairão a quem lhes deu o pão na boca com uma mordida venenosa na primeira boa oportunidade. Quando se fala dos compradores das televisões públicas e privadas se fala de convites a inúmeros banquetes, recepções, férias na Riviera Francesa, caixas e caixas de Champagne como “presente” de Natal (o que é totalmente legal) para que assim estes executivos televisivos, decidam onde repartir seus suculentos recursos comprando os direitos de antena de tais filmes e de seus produtores mais “próximos”.

O tão aclamado “emprego altamente qualificado” que a industria audiovisual afirma contribuir para a economia em geral se resume à média de 4 à 5 empregados (às vezes incluindo aí os próprios donos das firmas) com salários médios de 1.200 euros ao mês, desrespeitando a carga horária semanal (na Espanha 40 horas por semana). Todos devem mostrar-se “felizes” pois estão fazendo o caminho da glória. Esta é a penitência individual que cada um deve pagar para poder chegar um dia “a fazer algo realmente brilhante”· Todo o resto, quando são aprovados os subsidios e as compras de televisão prometidas (sim, são promessas com contratos cheios de armadilhas) começam as contratações. Existe um exército de professionais desesperados vagando por aí lutando por 2 meses de sálarios (tempo médio de produção). E este exército de “mosquitos da selva” lutam com todas as armas para obter a sua grande oportunidade. É maravilhoso vê-los e ao mesmo tempo triste por saber que vivem de um sonho, lutando a metade do ano contra a fome. Não é para qualquer um e merece respeito.

Europa

Assim é o cinema espanhol, o francês, o italiano e a quase totalidade da Europa. Para não falar de Estados Unidos, onde tenho amigos altamente qualificados que recebem desde 1991 o mesmo sálario semanal, sim 18 anos recebendo o mesmo valor que no geral seguem nos mesmos patamares para as divisões técnicas e artísticas “menores”. Na Europa, este esquema somente é possível pois existem “colchões” sociais onde a grande massa, os que realmente fazem os filmes, podem recorrer ao seguro desemprego e assim se livrarem de uma vida famigerada, sem teto nem comida. Esta é a crua realidade e desafio a quem for a que prove que estou mentindo contratando a uma firma de investigação independente e sem interesses conflitivos com estas indústrias.

No entanto, você deve estar questionando o porque que estou “traindo à minha gente”. Qual é o meu real interesse nisto tudo? Minha resposta é simples e direta: Cansei, quero ver a gente diferente, gente nova, novas idéias e novas formas de se gestionar este negócio. A mediocridade é produzida pelo sistema que foi rentável enquanto os meios de produção e reprodução eram escassos. Adorei o que fez Arin Crumley em “Four Eyed Monster” e odiei que 10 dias antes de começar a rodar a fotografia principal de meu filme, o mesmo teve que ser cancelado pois uma coprodutora “decidiu” que me estava fazendo uma grande favor ao assinar o contrato que sujeita os subsidios como garantia ao dinheiro que o banco adianta para a produção. Não se tratava de que ela gastasse nada, era somente cumprir com o compromisso pactado. Porém, ela decidiu que queria que eu renunciasse à todos os meus direitos e virasse seu empregado à troco de ter o “privilégio” de rodar meu longa ou ficasse sem filme. Foi de uma brutalidade imensa, um verdadeiro roubo sem armas mas tive a força e valentia de mandá-la para os diabos que a carregassem e recusei a chantagem. Conheço diretores que aceitaram semelhantes extorsões e tiveram seus filmes dilacerados. Meu filme não se rodou porem hoje eu olho ao futuro e ela compra caixas e caixas de Champagne para “agradar” aos administradores da televisão local nestas festas que se aproximam. Tenho a convicção que estou melhor que ela pois estou trabalhando com propostas de futuro e ela pertence ao bando de defensores de supostos “direitos”, aqueles que somente defendem seus interesses mesquinhos.

Creio que o talento se nutre, se abraça e deve ser muito bem cuidado. Itália teve uma das industrias de cinema mais importantes do mundo e hoje se vê reduzida a farrapos. Um ator italiano me disse uma vez: “Os velhos, por mais brilhantes que fossem, não deixaram espaço para quase ninguém das novas gerações e agora temos a mediocridade e rarissímas excessões.” Não é o futuro que desejo para a Espanha, para a Europa e na verdade pra lugar nenhum e para ninguém.

Os meios digitais mudaram o cenário para sempre e não há volta atrás. Eles, estes “artistas” tem os velhos “colchões” sociais onde deitar e descansar tranquilos (alguns têm contas bancárias multi-milhonárias e muitas propriedades), não creio que passem penúrias no futuro e no que lhes sobra de vida. Mas que fique claro que os direitos civis da população não são moeda de troca por materias de direitos autorais. Muito menos quando estes trabalhos foram pagos com o dinheiro público. Quando um arquiteto faz o projeto de uma ponte, ele cobra a minuta do projeto, o governo ou a empresa que o contratou lhe paga pelo seu trabalho, porém não lhe cabe cobrar um pedágio eterno à todos que utilizam a “sua” ponte. Ponto final. Também é um fato que a sua autoría do projeto é inalienável. Ninguém pode copiar o desenho da mesma ponte e ir contruir-la em outro lugar alegando ser uma obra original sua. O direito aos créditos de realização e autoría de um filme, de uma música não estão em discussão. Seu mérito foi a criação e você recebeu por ela, ou não?
Senhor Roteirista e Senhor Diretor: lembre-se sempre das vezes que caminharam ajoelhados na frente de produtores para que estes bondosos senhores lhes dessem “uma chance”! E também de quando até renunciaram parte significativa de seus sálarios cedendo à chantagem mesmo sabendo que eram baseadas em argumentos mentirosos. Deixemos já de argumentos imbecis pois Alice já nao mora mais aqui!

Se alguém me copiar um texto meu e o publicar sem citar meu nome, verá minha cara nos tribunais de justiça se eu descobrir o fato. Se me mencionar, por favor, adiante! O convite está aberto à quem quiser, em qualquer lugar e qualquer hora. Creative Commons, alguns direitos reservados, ou seja, a titularidade da autoría é reservada. A reprodução da mesma? Faça você mesmo, com alguns cliques no teclado!

E o que acontece com a música então? As companhías de disco sempre pagaram a peso de ouro às estações de radio e aos programadores de tv para que propagassem as suas músicas ao público. Isto há menos de uma década atrás. Portanto, joguem as máscaras no lixo! As lindas e jovens estrelas desfilando com um carro de luxo absoluto enquanto a multinacional por detrás ajuntava milhões e milhões. Agora está tudo muito mais fácil: façam boa música, a distribuam por todos os lados em internet e o dinheiro virá se a música for boa e vocês, músicos, suarem mesmo a camisa. Há doidos para todos os gostos e tem gente que compra até cueca e calcinhas de suas estrelas preferidas.

E no lado mais material e concreto do tema: não é possível controlar o que se está passando atráves de sua banda larga. Simplesmente isto! Os Estados Unidos elaboraram e distribuiram um sofisticado software que codifica os endereços IP (in and out) e os deram de graça para os iranianos evadirem a censura dos seus aitolás. A única maneira de conseguir controlar os fluxos, seria montando patrulhas cibernéticas no estilo chinês.

Contra os direitos civis não há barganha

Desta forma, meus caros, Sarkozy fez o que quis (menos colocar seu “principe” num organismo estatal importantissímo na França chamado EPAD pela pressão pública que sofreu) mas não teve tantos problemas ao adotar uma lei extremamente repressiva chamada Hadopi. As pessoas “deixaram passar”. Bons e respeitados amigos franceses me escreveram nestes últimos dias a respeito e tive que refletir o que faz com que os espanhóis sejam tão diferentes aos vizinhos: porque a mera idéia de que o governo possa censurar nossos atos está fora de qualquer discussão. Talvez a memória da ditadura esteja escrita no DNA e não podemos barganhar os direitos civis por uma lei de direitos autorais obsoleta, errada do principio ao fim e eticamente imoral. Uma vez mais, Espanha é um laboratório das liberdades civis na Europa. Espera-se que desta vez as pessoas de outros países tomem partido e apoiem tal como se se tratara do nazismo há 70 anos atrás e não virem as costas na indiferença. O que ocorrerá aqui, se tem exito, se extenderá, seja o que for. Ao menos por toda Europa e Latinoamérica.

Já, uma proposta deste estilo nos Estados Unidos não é objeto para um post de um blog mas sim para um livro.

December 6, 2009

INTERNET QUEIMA A ESPANHA (E SEU GOVERNO)

O Primeiro Ministro Zapatero foi o primeiro governo eleito em 2004 como consequência direta das novas tecnologías (Internet e SMS) e corre o risco de ser dos primeiros a cair se segue apoiando a “reinvindicação” de “adoção de políticas de repressão” contra downloads pela Internet que o “sindicato” de artistas milhonários do país e seus lobbies exigem.

Primeiro Ministro Zapatero

Para começar, há uma indústria de bilhões de euros com artistas que moram em palacios ao melhor estilo de Hollywood que não causa nenhuma pena na população em geral. Em segundo lugar, o P2P não é ilegal na Espanha: toda vez que se compra um DVD/CD virgem, um Ipod, um laptop ou qualquer outro dispositivo eletrônico capaz de reproduzir ou duplicar um arquivo digital, se paga um “canon” (imposto) que vai direto para o cofre das sociedades de arrecadação de direitos autorais, torná-los ainda mais milhonários. Terceiro: pirataria é copiar e vender obras obtendo lucro. Este não é o caso aqui, já se adquiriu o direito à copia uma vez que a lei estabelece e se pagou no ato da compra o imposto de cópia privada. Assim se chama: imposto de cópia privada!

Mas mesmo diante do fato de que 75% da população espanhola possui conexão Internet e que destes um 80% faz uso habitual e descarrega produtos digitais para seu consumo próprio, o governo decidiu colocar disfarçadamente dentro de uma lei maior de luta contra a recessão econômica, um adendo que joga no lixo o estado de direito e o poder judicial e transfere a competência e poder ao atual famigerado Ministério de (in) Cultura), dirigido por interesses corporativistas de uma representante direta de produtores e autores fracassados, o grande poder de cortar conexões, sites e o que bem achar apropriado, tudo à margem do sistema judicial.

As leis de direitos autorais têm que ser completamente revisadas e atualizadas. Não é possível que a “propriedade” seja esticada no tempo por 70/80 anos depois da morte do autor. Também é escandaloso e imoral que na Europa e em todos os países onde a produção audiovisual é paga com dinheiro público, este direito seja de exclusiva propriedade privada (produtor/autor). E se é justo, isto tem que ser discutido e decidido por quantos anos.

No entanto, a insensatez do governo espanhol teve consequências muito mais rápidas: em 6 horas 58.000 blogs somente na Espanha haviam postado matérias sobre o assunto e em 24 horas, mais de 1 milhão de páginas refletiam de alguma maneira o problema, segundo informou Google.

Hoje, 3 de dezembro de 2009, o governo, leia-se o Ministério de (in) Cultura convocou uma reunião com as maiores celebridades do mundo Internet na Espanha para “debater” o tema. Ángeles González-Sinde, a Ministra da (in) Cultura abandonou a reunião com uma desculpa menor pois esta era retrasmitida via Twitter e Facebook e também blogs para todo o mundo. Ela odeia o debate e seu ponto de vista é o único aceitável.

Ministros do Governo Socialista Espanhol

Esta senhora deve ser demitida de imediato pois carece de estatura moral para o posto que ocupa e um sério debate sobre os direitos autorais deve ser iniciado e concluído na Espanha, na Europa e em todo o mundo.
As pedras estão ardendo, em fogo vivo e não esperaremos passivamente que leis repressivas como a vergonhosa Hadopi dos vizinhos franceses sejam postas em pratica na Espanha

December 3, 2009

PROMISCUIDAD, PARÁSITOS Y CERVEZAS

Simplemente Arianna Huffington ha disparado una vez más a varios buitres con un solo tiro ¡Felicitaciones Arianna! Se lo ha hecho explicando con detalles los argumentos ridículos del Sr. Murdoch de News Corp., y algunos de los argumentos NYT, en una estupenda reseña hoy en el Huffington Post.

Arianna Huffington

Entiendo que el NYT desde la desesperación está tratando de todo un poco, todos las pociones mágicas con el fin de mantener su grandeza del siglo pasado. Es un grupo de profesionales que merecen todos mis respetos.

Pero como Arianna ha expuesto brillantemente en su post de hoy, Murdoch llama a todos los “ladrones” mientras él y sus empresas la practican (los supuestos robos), seriamente, sin vergüenza o disculpas: citando el artículo de Techdirt.com, el post demuestra que “The Wall Street Journal tiene un sección de tecnología que no es nada más que un parásito – eh, quiero decir, agregador – del contenido exterior. FoxNews.com tiene una política que se llama Buzztracker vampiros – Uh, me refiero a los agregados y enlaces a historias de una variedad de diferentes fuentes, incluyendo el New York Times, el Washington Post, MSNBC y otros.
AllThingsD tiene una sección llamada Voices que no sólo reúne titulares, pero también tiene un pedazo agradable del texto – y coloca los enlaces en letra pequeña en la parte inferior de la historia.
Y News Corp. de Murdoch también es propietario de IGN, que tiene una variedad de propiedades web, incluyendo la revista de cine http://www.rottentomatoes.com/, sitio de agregación de películas – que está formado íntegramente por críticas de películas juntadas de otros lugares. ¿Alguien dijo la palabra” robar”?

Cuando “gente” de la estampa de Murdoch, deciden hacer algo en contra de una situación determinada, podemos predecir todo tipo de actuaciones sucias, y de la inmundicia que vendrá por el camino. Esta clase de “gente” simplemente no conoce el concepto de equidad. La única manera de entender el mundo que tienen es desde la altura de su propio poder, que, considerando las cosas como van, no va permanecerán de la forma que están por mucho tiempo.

Un viejo amigo mío de Alemania, solía decir “la cerveza no se debería vender, sino que alquilarla, puesto que casi siempre se la dejamos en el mismo bar donde la bebimos“. Y, por supuesto yo no podía parar de reír cuando leí Arianna comentando sobre un discurso que tuvo que escuchar en Mónaco de un magnate alemán llamado Mathias Döpfner, CEO de la editorial alemana Axel Springer y creadora de la prensa sensacionalista alemán Bild (controlando el 25% de del mercado europeo en 32 países y con más de 150 periódicos y revistas), diciendo: “Si es su decisión de negocios ofrecer latas de cerveza de forma gratuita, bien”, dijo. “Pero no tome nuestra cerveza y la ofrezca de forma gratuita.”

Eso causó un cierto choque de comprensión para nuestra querida Arianna: “Me pareció una metáfora muy extraña. La información no es lo mismo que un producto que sólo pueden ser consumidos una vez por una sola persona. Si usted consume una noticia, usted puede ser uno de los millones de personas que está haciendo lo mismo. Si usted consume una cerveza, nadie más la puede consumir”.

Bueno, bueno, hay “personas” con hábitos extraños, que tal vez decidan “reciclar” su propia cerveza en el fin de no compartir su subproducto con los gérmenes de los baños en los bares. El amor a sus “producciones”, quizá.

December 1, 2009

(Internet) FICOD 09 los puntos altos y bajos de la co(Internet) FICOD 09 os altos e baixos da conferência

Acho que já é hora de resumir e fazer um balanço final dos pontos altos e baixos de FICOD 09 (Conferência Internacional de Conteúdos en Internet celebrada em Madrid, Espanha entre 17 e 19 de novembro) que contou com a participação de mais de 8.000 participantes o que a converte nas maiores conferências do gênero de todo o mundo. Sinceramente, pouco me importa o seu tamanho porém a sua qualidade e por isto, tentarei colocar alguns focos de luz nos pontos altos e também nos baixos de dito evento.

Por ora, Bernardo Hernández (Diretor Mundial de Marketing de Google) e Kevin Spacey brilharam no alto da constelação do evento. Spacey demonstrou que existe uma combinação possível da grande arte, com o entendimento da realidade e o engajamento nos desafios que existe ao contrário da luta dos “cachorros loucos” em sua trajetória final para o descanso eterno (outro post dedicado à Spacey aqui abaixo). Bernardo, o “rei Midas” da Internet espanhola, fez uma apresentação brilhante, com fatos e números, pontos de vista e sobretudo, o entusiasmo inerente à posição dominante de Google na Internet. Alguns destes números são realmente assustadores: nos ultimos 25 anos, a capacidade dos processadores se multiplicou por 3.500 vezes ao mesmo tempo que a redução de preços de memória RAM foi de 45.000 vezes e o preço de armazenamento físico de informação (HD) diminuiu a estratoférica quantidade de 3,6 milhões de vezes. Dados estes fatos, demonstrou que a principal diferença existente entre a Internet em comparação com as outras épocas de mudanças tecnológicas profundas está en sua velocidade: com somente 50 milhões de usuários e 3 anos de “idade”, se chegou a um faturamento bruto de um bilhão de dolares em publicidade ao passo que com o mesmo numero de usuários, outros meios tais como o radio e a televisão demoraram 37 e 15 anos, respectivamente. Há 10 anos Google não existia, hoje é o poder que rivaliza e confronta diretamete a Microsoft.

Bernardo Hernandez

Bernardo Hernández

Para ver a apresentação em castelhano, clique aqui.
Para vê-la em inglês, clique aqui.

Também no lado positivo, eu gostaría de destacar o nome de Rodolfo Carpentier e Carlos Blanco, dois valentes e apaixonados financiadores da inovação da Internet na Espanha que não perdoaram a ninguém e acusaram ao “grande capital de risco” na Espanha de serem amadores (no pior sentido da palavra), por negligência e ignorância das oportunidades que acostumam perder para os competidores no resto da Europa e nos Estados Unidos.

Antes de passar ao lado obscuro da Conferência e enfrentar os representantes da corporativa EGEDA (Associação Espanhola de Produtores) e a SGAE (o ECAD da Espanha mas com mais poderes pois engloba o audiovisual como um todo), há que se louvar a valentia com que Javier Sánchez (fundador da pioneira ADN Stream) confrontou o obscurantismo destas instituições.

Todos os organismos de coleta de direitos de autores, os representantes do derrotado setor musical retratados por todas as partes como o exemplo do que não se deve fazer e repetir (pobrezinhos!); o convite desfortunado à MPA (Motion Pictures Association of America) cujo o representante disse à audiência da maneira mais patética que sua origem era a agricultura mas se era para defender os interesses da América ele faria tão bem no cinema como na agricultura. Nenhuma vergonha na cara! A Ministra de (in) Cultura que leu um discurso seguramente elaborado por dezenas de assessores para prevenir que vomitasse sobre o público as suas gafes habituais. Mas ainda assim não pôde conter o seu tom beligerante e deixar de transmitir a sua voz agressiva ao ler a sua particular declaração de guerra à “pirataría” e sua defesa dos direitos autorais. O discurso, ao não ser tão inflamado de ódio como tanto lhe complaz, lhe saiu pelos caninos cerrados da boca. Foi especialmente vergonhoso por ter sido precedida pela representante dos EUA, Sra. Ana Gómez, país convidado do evento e que em seu discurso não disse nem uma frase em relação à repressão ou aplicação de leis restritivas. Todo ao contrário, explicou detalhadamenteos os enormes esforços de investimentos em infra-estruturas sendo levados à cabo ao máximo possível nestes momentos de recessão. Depois do discurso de Ministra de (in) Cultura foi a vez do Ministro de Industria e Comércio da España (anfitrião e patrocinador principal do evento) que foi bem mais moderado nas suas atitudes e palavras porém perdeu uma excelente oportunidade de fazer algum anúncio de política governo que desse um tom diferencial ao conjunto da reunião. O Primeiro Ministro Zapatero, também deveria haver encontrado um buraco em sua agenda e ir até a inauguração e mostrar à Espanha e ao mundo que a recessão é realmente aceita como uma oportunidade de mudar os arcaicos modelos econômicas que fundem o futuro do país e demonstrar uma vontade política de câmbio de regime de crescimento para as futuras gerações.

Como sempre, Espanha segue com seu encanto, seus corações ardentes e classista e estóica em relação ao novo. Adoro o país, me sinto em casa nas ruas de Madrid, Barcelona ou Sevilha por igual. É minha casa! Variam os sotaques, as linguagens corporais mas as essências, para o bem ou para o mal seguem sendo as mesmas em todos lugares. A auto-condescendência, o complexo de inferioridade em relação aos vizinhos europeus (óbviamente europeus!) e com relação aos americanos. Porém a mentalidade aristocrática e feudal (agora em versão digital) ao negar a mudança nas atitudes, democratizar as relações de trabalho e espaços comuns; abraçar ao “estrangeiro e diferente” como o fazem nos EUA em tempos difíceis ou de expansão: não importa de onde venhas, os americanos analizam o que temos para oferecer. Os espanhóis (e europeus em geral) te olham e querem saber quem és e “quais são as tuas verdadeiras intençõe$” Esta é a mentalidade que manterá a Europa atrasada se não muda. Já chegou a hora de entender que o negócio digital é global e que todos os “nacionalismos” são fronteiras mentais construídas por mentes temerosas de renovação. Não te defenderás de uma hipotética “invasão” mas ao contrário, o isolamento te esmagará de forma solitária e tranquila, na “segurança de uma vida que nunca muda”.

November 29, 2009

OS DOIS LADOS DA MESMA MOEDA

Lula, o auto-aclamado novo líder do terceiro mundo recebeu calorosamente contra a vontade da maioría do povo brasileiro (o povo que tem alfabetização suficiente para saber que é e onde fica o Irã), ao seu companheiro Mahmoud Ahmadinejad.

“Se o Irã é um ator importante nesta discórdia, então é importante que alguém se sente com o Irã, fale com o Irã e trate de estabelecer um ponto de equilibrio, de modo que a sociedade volte a uma certa normalidade no Oriente Médio” disse Lula segundo as principais agências de noticias internacionais.

Desta forma, finalmente podemos ver como um ignorante, arrogante e político oportunista como Lula (sím, o certo e seguro é que é baixo e rasteiro com uma larga e legendária história de traições contra seus próprios “camaradas”) deixa cair a máscara de ser “o cara” aclamado ingenuamente por Obama durante uma reuniao do G-20 e mostra que não conhece límites para sua estapafúrdia ambição de transformar-se em “líder mundial”.

Protestos contra a presença do ditador

A visita do ditador do Irã é uma vergonha para milhões de mulheres brasileiras, homossexuais, judeus brasileiros e à todos os democrátas em geral porém também é uma oportunidade para demonstrar que no jogo sujo do poder a qualquer preço, Lula ganha de longe. Ao ser hipócrita, um “camarada” sem escrúpulos que recebe de braços abertos e sorriso de orelha à orelha a uma das pessoas mais sanguinárias e trunculentas que já viveram sobre a Terra.

Obama, por favor tenha mais cuidado antes de chamar alguém “o cara” da próxima vez. E todo o mundo, que seja consciente que “o cara” tem facas longas como as teve outro politico popular austriaco que dominou a Alemanha nos anos 30 e não exitou em usá-las.

Lula, o pacificador, É cômico vindo de um “cara” que não consegue sequer pacificar as favelas dos Rio de Janeiro. É ele que vai solucionar algo no Oriente Médio?

November 23, 2009

A grandeza da humildade

Kevin Spacey, pronunciou um discurso magistral durante FICOD 09 (conferência bastante vergonhosa no que se refere à liberdade de expressão) que moveu a muitas pessoas que não estão no “negócio” somente visando o lucro fácil e rápido e os direitos quasi perpétuos
(somente 70 anos depois da morte do autor) Se por nada mais, a fortuna gasta no evento foi bem paga somente pela lição de grandeza moral e de humildade para tanta gente vã. Humildade que nas linguas latinas habitualmente é confundida com humilhação. Parabéns Kevin Spacey!

Kevin Spacey

Kevin Spacey

O senhor Spacey fez especialmente clara e dura a sua postura sobre a necessidade de que hajam espaços abertos para as novas gerações demonstrarem seus talentos e poder assim subir “as escadas” (melhor dito: o elevador) do sucesso. Recordou com enorme franqueza a sua relação com Jack Lemmon e de como eles compartiam os mesmos valores em relação ao “elevador” da fama. Muito bem, não há necessidade de oprimir a ninguém para subir no podium da grandeza e ambos a alcançaram de sobra.

Para a conferência completa en espanhol, Kevin Spacey

Para vê-la em inglês, clique aqui Kevin Spacey

Várias questões relevantes vieram à tona durante seu discurso e deixaram claro o espirito de abertura sobre a dita revolução digital: “Aqueles que acreditam que podem ver e almejam o futuro, a aceitam”, disse.
Está claro que o Sr. Spacey a viu há bastante tempo. A tal ponto que sua próxima produção terá como tema uma trama centrada nada menos do que em “Facebook”. Não pode ser mais explicito quando analisou o ocorrido com relação à indústria musical (que adotou o modelo repressor como base de ação) e o paralelo com a indústria audiovisual: “Se você não dá às pessoas aquilo que necessitam, quando e como necessitam à preços acessíveis, eles encontram seu próprio caminho e os obterão gratuitamente.”

Salve Kevin!

November 21, 2009

CONTEÚDOS INTERNET E O PODER POLÍTICO

Havia passado a noite inteira editando um video de 2 minutos e fui para a cama às 7:30 da manhã. Menos de 15 minutos depois ouço o ruído do móvel, uma mensagem que entra… Não passam minutos sequer e outra e outra. Finalmente, antes que eu conseguisse acalmar e dormir, toca o telefone. Tenho vontade de jogá-lo e destroçá-lo contra a parede mas ainda assim atendo: “como, você ainda não sabe?” Saber o que, estou morto de sono, me deixa dormir! “Acabaram de explodir Atocha (estação de trens principal de Madrid) e há milhares de feridos e mortos”.

Fico congelado e imóvel por um segundo. Ah, a televisão! Todos os canais transmitem ao vivo as cenas de terror da tragédia, do atentado mais violento e catastrófico na Europa desde a Segunda Guerra Mundial. Soube, assim como milhões de espanhóis, que começavamos a pagar o preço da estupidez de Aznar e seu apoio à inútil guerra do Iraque. Não tardam em começar a chegar as versões oficiais culpando o “outro” lado: ETA (grupo terrorista vasco). Os que tinhamos BBC, CNN e Internet fomos capazes de obter as versões reais dos fatos e retransmiti-las aos amigos e parentes que por sua vez as retransmitiam, formando uma cadeia imensa de mensagens. No final do dia 11 de março de 2004 todo o país já não acreditava nas mentiras emitidas desde os meios tradicionais de comunicação, instigadas desde dentro do governo da Espanha (Aznar e Cia.)

Para aqueles que estiveram na Espanha durante aqueles dias, não estou contando nenhuma novidade. Para os que viram tudo desde o lado de fora, não há palavras para descrever o que é estar em um país supostamente democrático onde toda a informação era manipulada com o único objetivo de ganhar as eleições marcadas para dentro de 2 dias.

Atocha e o memorial das vitimas

Sem Internet, sem móveis, provavelmente houvesse prevalecido a versão oficial (que os terroristas eram da ETA) e tería ganhado a direita que sem ouvir o clamor popular meteu o país numa guerra absurda, até hoje sem solução.

O Sr. Zapatero foi o primeiro grande beneficiário do poder de mobilização de Internet e das comunicações móveis. Obama, sem arrebatar-lhe seu mérito, foi um fenomeno menor no que se refere a uma súbita reviravolta eleitoral. Um quarto da população espanhola foi às ruas gritando: “Antes de votar, queremos a verdade!” Proporcionalmente, isto significaría 75 milhões de norte-americanos, 50 milhões de brasileiros e 15 milhões de franceses. Obama obteve a soma total de um pouco mais de 69 milhões de votos.

Ao lembrar daqueles dias e fatos, me sinto constrangido ao ver o triste espetáculo milionário que o Ministério de Industria e Comercia de Espanha acaba de patrocinar (FICOD 09) onde quase 100% dos seus conferencistas, defenderam sem pudores a uma ou outra forma de censura de conteúdos na Internet. Estes senhores (funcionários do Estado) não estaríam sentados em suas cadeiras sem a influência decisiva que jogou a Internet e os SMS entre os dias 11 e 14 de março de 2004.

Muito se poderia comentar sobre as políticas atuais do governo da Espanha. Pelo momento me centrarei no fiasco intelectual (ainda que estivesse vestido de galas palacianas) que acaba de acabar na capital do Reino.

Somente um lembrete: não se esqueça Senhor Primeiro Ministro, que os mesmos que o colocaram sentado em seu trono podem tirá-lo daí. Sob pena de entregar este mesmo trono à pessoas mais torpes e incapazes dos que o senhor atualmente se encarregou de preenchê-los.

November 20, 2009

A MINISTRA DA (in) CULTURA ESPANHOLA, MOZART E OS DIREITOS DE AUTOR

É realmente surpreendente ver aonde pode chegar a estupidez e a arrogância inerentes ao poder e o que estas podem produzir no mundo. Bem, ainda estamos com a memória fresca da época de Bush e já nada nos surpreende mais. Inclusive “esquerdistas” que se eregem como poços de sabedoria como se fossemos seus discipulos, seguidores ignorantes de suas “revelações”.

Na semana passada, a Ministra de (in) Cultura da Espanha, responsável da guarda, proteção e melhorias de mais de 1.000 anos de patrimônio cultural da humanidade (para não ir mais longe) declarou publicamente à RTVE (ente estatal de rádio e televisão da España), segundo informa o jornal “El País” que “Mozart viveu na miséria por não receber direitos autorais. Se os tivesse recebido, ele e sua familia teríam vivido melhor”. A (in) cultura da Sra. González-Sinde é bem conhecida na Espanha e pelos lugares onde ela já vagou distribuindo suas “sabedorias”. No entanto, ela tem a sua disposição assessores que poderiam evitar tais fiascos.

Casa de Mozart

Cortiço pobre onde nasceu Mozart

Mozart jamais foi pobre. O que todos (exceto ela, talvez) sabem. Mas ainda assim, foi o precursor la violação dos direitos autorais. O artigo do culto jornalista Enric González (sem relação familiar), nos ajuda a colocar os fatos à luz do dia. Em sua possessa obssessão de defesa dos direitos de autor, e aplicação da lei a qualquer custo, fez com que ela deixasse de se documentar minimamente sobre o fato de que Mozart foi um “pirata” precoz, ao copiar a obra sacra Miserere Dei, Deus de Gregorio Allegri.

Mozart Criança

Mozart: deliquente juvenil pego fazendo download

Em resumo, a situação desta peça musical era de exclusiva propriedade do Vaticano e somente podia ser executada dentro daquele recinto. As partituras estavam com o próprio Papa e os dois únicos outros exemplares divididos entre o rei de Portugal e um sacerdote franciscano (este músico). Desgraçadamente, um garoto metido a besta e atrevido, nada respeituoso com as leis vigentes, chamado Wofgang Amadeus Mozart visitou o Vaticano em 1770 e ouviu a obra musical. Seu cérebro trabalhava com 64 bits de capacidade de processamento e ao voltar para casa, sentou-se e escreveu a partitura. Alguns dias mais tarde, voltou ao Vaticano e corregiu algumas falhas e fez a correções necessárias. Um ano depois, o trabalho, as partituras, foram publicadas em Londres. O Papa fingiu que não tinha nada que ver com nada daquilo.

Isto foi uma violação dos direitos autorais, Sra. Ministra da (in) Cultura da Espanha. O que faria a senhora com aquele “moleque safado”? O condenaria à cadeia? Talvez uma lobotomía para apaziguá-lo? Opções que certamente teriam sido de grande beneficio para a manutençao da lei e da ordem para a humanidade e para a lei divina de Sua Santidade! Para os seus “santos ouvidos”! Quanta vergonha! Deixe os espanhóis em paz e se esqueça da idéia absurda de retroceder o país aos dias das conexões discadas a 128 kbps, como já declaraste públicamente. A senhora está em contra da cultura, do progresso da ciência e do conhecimento para a humanidade.

“Faça o que eu digo mas não faça o que eu faço”. Esta parece ser a única conclusão a se tirar quando se sabe que seus subordinados diretos ou qualquer outra pessoa do governo, copiaram quase que palavra por palavra a sua própria biografia de Wikipedia, sem mencionar o fato (e muito menos os editores Wiki). Uma vez mais, que vergonha! Faça um favor ao mundo e a si mesma: renuncie ao cargo que lhe deram.

Com certeza, existem garotos e garotas aos quais a senhora chama despudoradamente de criminosos porém para sua desgraça são brilhantes e muitos deles fazem e farão parte da história enquanto a senhora permanecerá sendo uma mediocre a mais, no degrau de Antonio Salieri (o vampiro invejoso de “Amadeus”, o filme, o filme, e não a realidade, entendeu bem?): um retrato sem qualidade, cheio de vicios autoritários e venenosamente perigosa defendendo aos interesses da industria, não o interesse dos artistas.

November 12,2009

Produção de conteúdos online: a lei do silêncio

Continuando os esforços de recompilação de informações de todas as fontes possíveis para seguir con a série de artigos sobre os subsídios governamentais à produção audiovisual, topei com uma muralha de concreto e aço: o muro do silêncio. Minha intenção era questionar os responsáveis politicos, aos diretos de instituições audiovisuais, institutos de cinematografia e também aos diretores, produtores e atores sobre as politicas de Estado.

Já suspeitava que a tarefa não seria fácil e para começar, todos os meus pedidos foram recusados como se eu fosse um ladrão ou uma peste venenosa que ameaça os status quo de seus empregos públicos e suas rendas. Sem começar a dar nome aos bois, autoridades culturais de países europeus e latinoaméricanos, depois de ler (ou não ler) este pequeno blog, simplesmente se negaram (ou silenciaram) a dar qualquer tipo de entrevista por email, telefone, ou quaisquer outros meios a eles oferecidos. A posição do funcionariado burocrata é que a lei é a lei e me parece que o questionamente destas mesmas leis já são consideradas, de por si, posicionamentos “ilegais”. Agitando a bandeira da “legalidade”, como se as leis existissem de maneira desvinculada às suas funções sociais e à realidade da população. Tenho que lembrar à estes senhores e senhoras que houve um tempo no qual a escravidão também era a lei e ir em contra dela era um ato criminoso. Será que alguém se atrevería a defendê-la atualmente?

Poucos produtores aceitaram o desafio (alguns heróicamente ofereceram declarar públicamente) porém a maioría absoluta simplesmente não quis seque falar sobre as questões referentes à distribuição digital, aos subsidios para a produção de conteúdos online e sobre a nova realidade imposta nos tempos que correm de Internet de banda larga. Falta de interesse por motivos bastante obvios.

Mas por que tanto medo e esta lei do auto-silêncio? Qual o grande mal que pode se abater sobre a humanidade falar de algo que já é realidade? Um fato concreto.

A fim de esclarecer a situação e convocar às partes interessada a responder as perguntas que a própria sociedade está fazendo e as autoridades públicas e outros afins se negar a responder, decidi publicar as perguntas enviadas. Quatro (4) perguntas simples que permanecem sem respostas:

1) Considerando o fato de que o número de espectadores de conteúdos audiovisuais online se multiplicar (no minímo) 10 vezes o número de espectadores em salas de cinema em todo o mundo, é justo que o Estado (supostamente representando o povo) somente subsidie a produção audiovisual com a irrevogável pré-condição de sua exibição nas salas de cinema? Não se trata de uma posição anacrônica?

2) Por que insistir na imposição de anacronismos que vão em contra dos desejos e habitos da maioría da população?

3) Os counteúdos audiovisuais disponíveis gratuitamente para todos são relegados à sua própria sorte pelas políticas públicas e não são contemplados nas convocatórias de subsidios (editais) porém a produção dirigida à exploração comercial em cinemas ou televisão sim- o que se pode considerar sob todas as luzes como a construção de patrimönios privados com dinheiro público- sendo esta endeusada pelos organismos e pelos interesses quase mitológicos do clã corporativista. Está previsto alguma mudança para harmonizar e fazer justiça entre o que é a realidade de consumo cultural de seus países?

4) O público tem o direito e de fato já o exerce, de escolher o que, onde e quando quer acessar um bem cultural e os incentivos fiscais à estes dispensados devem refletir diretamente a demanda deste público ou não? Se deve ou não considerar a todos os atores sociais (incluídos criadores digitais) em pé de igualdade ou não?

É totalmente comprensível que as pessoas tentem ignorar a realidad para manter seus próprios status e privilégios. Minha pergunta: até quando será possível permanecer em estado de “negação?

November 5, 2009

Internet ao alcance das crianças: o final do filme será outro

Dando uma olhada rápida no filme que já leva 2 anos em pré-produção no Uruguai e que agora começa a entrar de fato em produção vemos que o programa One Laptop Per Child (OLPC) (em português: Um laptop para cada criança) foi implantado com o apoio do governo de esquedas do país e é efetivamente a primeira experiência a nivel mundial de distribuiçao gratuita de laptops para toda a populaçao do ensino primário das escolas públicas do país. Alunos do primeiro ao sexto ano.

Ao imaginar os efeitos que esta ação poderá produzir na nova geração, podemos ficar estupefatos. Em primeiro lugar, se rompe o principal bloqueio à igualdade na sociedade que é o acesso restringido da informação atualmente limitado às classes mais favorecidas. Fico muito curioso para saber os futuros resultados das avaliações destes estudantes quando comparadas às avaliações da geração anterior e também com aqueles que não têm atualmente as mesmas facilidades.

Desde que o Mr. Nicholas Negroponte apresentou o projeto, minha reação foi bastante descrente devido ao habitual descaso dos governos para com a educação e principalmente se estes esforços devem ser direcionados às classes menos favorecidas. No entanto, o Sr. Presidente Vázquez do Uruguay aceitou o desafio e o país se mobilizou para chegar ao objetivo e terminaram o primeiro objetivo: saturar (implantar massivamente) toda a população infantil com a distribuição em regime de propriedade (doação) de um laptop para cada estudante. Laptops simples, barato porém eficazes, com total conectividade, aplicações multimídia e equipados com o sistema operativo XO.

Este video dá uma primeira impressão bastante clara das conseqüências deste passo valente e absolutamente necessário para alcançar o conhecimento baseado numa real sociedade da informação:

Estas crianças serão capazes de reverter a realidade socio-econômica do país de maneira radical em menos de uma década. Toda criança é naturalmente competidora, já fomos crianças e sabemos bem disto. Tendo em conta que estarão capacitados para obter todo o tipo de informação e formar-se a si mesmos (em decorrência do que os professores terão que adaptar suas funções sob pena de serem superados por seus próprios alunos), não é descabelado supor que estas crianças formarão um grupos gigantesco de criadores interconectados. Já são capazes na manipulação de fotos, criam pequenos videoclips, formam suas redes de amigos. Ainda são crianças pequenas mas se convertirão em atores ativos de suas próprias vidas e a mismissíma definição do poder do saber terá que ser reavaliada. Como os adultos poderão impor critérios às novas gerações se eles próprios não detiverem os mesmo conhecimentos que estarão em dominio destas crianças? Como criar aplicativos, videojogos, etc. sem a participação ativa e direta dos reais protagonistas da “verdadeira nova geração?

O futuro está por escrever e o principal é que eles já detêm as ferramentas e este sim é o tipo adequado de subsidios que o Estado tem o dever de propocionar ao povo: o acesso ao conhecimento e a libertade.

Enquanto a “revolução” não chega… viva os subsídios!

 

Já disse claramente que não acredito na história de fadas da “revolução digital” que virará o mundo de cabeça para baixo da noite para o dia e mudará a maneira que vivemos. Muito menos, posso acreditar em semelhante coisa visto que os seus protagonistas pertencem à tribo dos egos exaltados. Não é da natureza da besta comer as suas próprias entranhas e todos podem dormir tranquilos: nossos cineastas, atores, produtores e outros envolvidos com o mundo da produção não se suicidarão mesmo que os ingressos estejam caindo por debaixo do vermelho a caminho do abismo. Este é o caso em todos os países onde os subsídios governamentais estão em pleno funcionamento. A bola vai seguir rolando no campo de jogo pois o jogo é muito bom e lucrativo para que se acabe sem que se lute para mantê-lo. E seguramente se lutará com garras e dentes, com enorme valentia e sem deter-se sequer pelos limites éticos (a grande maioria), inclusive se para isto for necessário partir para a censura.

Aqui, minha intenção é desenhar o mapa mais amplo possível da produção de filmes e conteúdos audiovisuais em todo o mundo com ênfase especial nos países com sistemas subsidiados. Os Estados Unidos tem seu próprio conjuto de regras, míseros incentivos a nível de cada estado, etc.etc. E para o propósito desta série de artigos, simplesmente não é entusiasmante o suficiente para expor suas malezas a luz do dia. Ainda não é.

BRASIL

Em homenagem ao país que me viu vir a este mundo, começarei pelo Brasil. Sim, sou brasileiro de nascimento. Não sou igual a ninguém e ninguém no Brasil nasce igual a ninguém (perante a lei? Não, especialmente diante da lei não há nenhuma igualdade). Não sou fácil nem tranquilo. Neste país ser calmo é facilmente confundido com ser débil e por este motivo creio que se explica o desagradável hábito da arrogância rotineira na vida em geral e em especial em relação às classes sociais depauperadas… E todos são detentores do supremo direito a ter todos os beneficios do mundo, existentes e por serem inventados, de todos modos e meios, em todo o universo. Aos que estão habituados com os termos utilizados nos contratos de distribuição de direitos, não ecoa particularmente familar?

Se faz necessário esclarecer alguns conceitos e colocar em perspectiva histórica o cenário geral de produção audiovisual no “reino” do Brasil antes de mais nada e isto passa por restrospectiva rápida do oligopólio de comunicaçãao chamado GLOBO e que produz uma gigantesca quantidade de novelas ( 4 horas por dia x 4 novelas x 6 dias por semana). O suficiente para manter a um exército de soldados combatentes e fiéis (artistas) ao seu brasão. Gente bem remunerada, bonita, feliz e contentes que vivem da glória e fama que disfrutam sem competidores dentro das fronteiras nacionais. Aprofundar-se no mundo encantado da Globo levaría muito tempo e não é o próposito básico destes artigos. Desta forma, para ser suscinto há que se dizer que eles têm uma enorme produção, com talentos (pessoas) de máxima excelência professional porém não são uma fonte de inovação em nenhum dos campos que dominam. Não é possível ignorar a sua existência nem desenhar um mapa da produção nacional sem levá-los em consideração.

As Organizações Globo (império que abarca canais aberto e a cabo, revistas, jornais diários, redes à cabo, rádio, e um sem fim de outras atividades) se fez com o predomínio da televisão brasileira através dos serviços prestados durante a ditadura militar nos anos 60 e jamais desceu de seu altar todo poderoso. A ditadura se foi porém eles seguiram com seu jogo e mantiveram as garras sobre o país, apoiando a convertidos politicos de direita em falsos democrátas na falsa democracia brasileira. Na atualidade dão apoio tácito ao governo de “centro-esquerda” de Lula. Inclusive quando dizem que não apóiam, expressam a mais alta deferência ao governo. É de sua natureza: sempre em pé, “em armas”, detrás do poder.

Sua posição dominante fez com que se gerasse no seu interior todo um conjunto de normas e conceitos estéticos que determinou e determina a pauta à todas as gerações atuais (não é nada inusual encontrar três gerações de uma mesma familia que trabalham dentro da mesma organização) e estas normas se extenderam a várias outras artes: o cinema é protagonizados em sua aplastante maioria por seus atores; um grande número de roteiristas e diretores provêm das novelas; o teatro é dominado pelos semi-deuses atores globais em carne e osso, a música que se escuta nas rádios são provenientes de suas trilhas sonoras, etc.etc. O “padrão globo de produção” consiste em uma mistura homogenizada de elementos fundamentais como a iluminação, a direção de arte, figurinistas, cenógrafos e 99% dos ângulos de câmera estabelecidos de maneira pobre e pouco criativa para retrar os componentes da base de sua padronização estética que personifica seus defeitos porém garantem o exito de público e com raras excessões, é quase sempre a garantia de um produto mediocre.

Para chegar a entender todo o seu alcance se faz necessário esclarecer que inclusive os comunistas e a esquerda independente foi incorporada e assimilada às suas normas predominantes. As excessões também são raras e em geral se podem contar com os dedos das mãos.

Sendo um oligopóliom não houve necessidade de investir em longa-metragens já que não existia nem existe a obrigação legal de faze-lo, como é o caso de muitos países europeus. Quando a Globo colocou o sr. Collor de Mello na presidência da républica brasileira num dos eventos mais escândalosos de uso de uma concessão de serviço público para a manipulação política aberta, este “senhor” a agradeceu aniquilando ao organismo estatal de fomento cinematográfico (Embrafilme) e toda a pequena produção independente que havia desapareceu. De 1990 a 1994 nenhum longa-metragem foi produzido no país.

Porém a demanda de instrumentos financeiros capazes de financiar uma industria audiovisual sempre foi um reinvidicação importante das elites culturais e o governo já havia facilitado os instrumentos legais para tanto. Instrumentos estes que a seu momento teve um razoável exito para chegar aos objetivos das “mentes iluminadas”: a renúncia fiscal para facilitar o “investimento” empresarial em produções culturais, incluído aí, o cinema, obviamente. Lentamente o mecanismo começou a funcionar.

Os fundamentos do sistema de renúncia fiscal são: roteirista/diretor aparecem com um projeto. Em geral não vêm sozinhos e têm os produtores de plantão que se juntam ao projeto e o formalizam. Se escala o talento (atores globais) e se registra o projeto na mediática (Ancine) para a sua aprovação (ou seja, para que possam começar o processo de captaçao de fundos. Não sem antes registrar o mesmo na Bolsa de Valores (sim, nunca se deve menosprezar a necessidade de “grandiosidade” da elite nacional) e logo à caça do dinheiro! Apartir de então, tudo passa a depender da direção de marketing das grandes empresas que decidirão segundo suas próprias agendas ocultas, qual projeto apoiarão ou não. Um processo exclusivamente comercial e sem nenhum critério artistico: contam os atores globais, uma vez mais; o diretor global; o diretor de fotografia de moda e sobretudo, que o tema a ser tratado seja apto para quase todos os públicos. Esqueçam-se de temas controvertidos.

MAS, e sempre há um grande mas em toda grande idéia, o “investimento” das empresas não se faz com o chamado “dinheiro bom”. Não, não!! Se “investe” dinheiro mau, dinheiro podre, repugnante ou qualquer outro nome que as empresas podem despejar como migalhas para a produção de cinema, de teatro ou de um ballet. Da perspectiva de um diretor de marketing, o dinheiro sai da mesma panela: do imposto de renda sobre a pessoa juridica devido à Fazenda do país e que não se pagará. Cabe dizer que não existe nenhum “investimento”. Existem 4% disponíveis do total à pagar de impostos e este dinheiro é posto em uma, duas, três ou quantas produções que considerem oportuno e este dinheiro se paga aos produtores porém o Tesouro Nacional deixa de recebê-lo. Não há nenhum risco inerente para o produtor, roteiristas ou diretores. Todos os salários dos artistas e técnicos são pagos integralmente e quando comparados com os salários em uso nas produções européias, são francamente caros. Se um diretor também acumula a função de roteirista e produz seu próprio filme (caso bastante comum) seus ingressos geralmente beiram os 30% do orçamento total da produção. Orçamento médio das produções brasileiras? Mais ou menos 4 milhões de dólares americanos. Algumas alcançam e ultrapassam 10 milhões de dólares. Toda esta produção se encaixa perfeitamente com o “padrão global de qualidade”. Nada tão diferente do que se pode ver sentado no sofá da sala num capítulo de uma novela mas é visto “no escurinho romântico do cinema”, em um multiplex cheirando a novo da cadeia Cinemark. Salvo raras excessões, a mediocridade é a norma.

E se o filme fracassa completamente na bilheteria? Quem perde? Ninguém e todos. O Estado Brasileiro e finalmente a população pobre do país desprovida de assistência médica e sanitária, de serviços públicos básicos e principalmente do direito de se queixar de mais uma ineqüidade gigantesca dos seus “ricos” artistas que seguem respaldando e respaldados pelos delírios de grandeza do presidente operário que meteu na cabeça que tem que colocar o país no clube das potências mundiais. Dinheiro não fala no Brasil, nas mãos de suas elites.

Vale a pena relembrar que o ex Ministro de Cultura, o cantor Gilberto Gil, recebeu também dinheiro subsidiado, mais de US$ 200.000,00. Para que? Para produzir o seu DVD! E Caetano Veloso? Se quer fazer um show onde o ingresso vale mais de US$ 100,00 por cabeça também agariará subsidios. Se houver algum problema, ele pegará seu telefone vermelho e ligará diretamente para o ministro que estiver de plantão para que reverta as regras do jogo em seu benefício e tudo seguirá em paz.

Há alguma estratégia com relação a “revolução digital”? Sim, Walkiria Barbosa, diretora do Festival do Rio
declarou recentemente que é necessário combinar ” educação + castigo + alternativas”. Seguindo a sua velha escola stalinista do Partido Comunista do Brasil (PCdoB), podemos imaginar que esta senhora tem tudo sob controle já. Ela e todos os outros. Falar de quaisquer outras alternativas no país é se retirar da foto oficial, na verdade de quase todas as fotos! Já sei! Estou me retirando enquanto escrevo estas linhas. “Não pense fora do quarto escuro do cinema com projetores de 35mm” ou serás visto como um “inculto”. Talvez inclusive como um criminoso e ponto. Fim da discussão. Alguém encontrará a maneira de te dar o teu merecido castigo.

FINALIZANDO O TEMA, é um investimento legal, de uma pessoa jurídica legal em outra entidade legal. Se o produto é bom, o “investidor” recuperará o capital mais os lucros. E os impostos que eram devidos desde o principio? “Faça-me o favor de esquecer e calar! Ninguém já se lembra deste detalhe irrisório, pelo amor de Deus!

Woody Allen and Rio

E a má noticia? O esquema é reservado aos cidadãos brasileiros se você se chamar Woody Allen os governos farão fila para te oferecer dinheiro público.

Após muitos anos flutuando no limbo de produtores mediáticos e outros parasitas do gênero, muitos autores decidiram romper com as amarras e fazer algo com suas vidas. Muitos simplesmente mudaram de profissão. Meu caso é diferente e não posso, não admito e não vou abandonar uma vida inteira de lutas porque alguns senhores torpes e bastante míopes detêm atualmente as rédeas do poder no setor. Não me rendo e se vou afundar, pelo menos irei disparando.

Não importam as fronteiras, elas são basicamente inúteis quando nos referimos ao audiovisual em geral, e falando de produção cultural e sua distribuição, o “velho” sistema perde água por todos os lados e os arremedos que tentam fazer não são nem um pouco eficazes para manter o status quo. A União Européia abriu o caminho para a repressão direta na Internet aprovando o famigerado artigo 138 que basicamente joga no lixo o ordenamento jurídico do estado de direito na Europa: não se necessitará mais de um procedimento legal e processual antes de punir aos internautas, aos “malvados” que descarregam “ilegalmente” conteúdos da rede. Sarkozy e outros homenzinhos pequenos terão o livre arbitrío para agir como lhes dê na telha. Seus egos se incham mas a maldita realidade se mostra e abre caminho a cada momento e se de fato eles querem impor um sistema generalizado de repressão na Internet, deverão fazer como se faz habitualmente na China ou no Irã (vejam onde terão que buscar inspiração estes senhoritos!) ou senão todos os seus esforços terão sido em vão. Como contraponto, os Estados Unidos acabam de repelir as tentativas da ultra direita americana que buscava implantar mecanismos de repressão e controle na Web.

Há pouco tempo tive a oportunidade de assistir uma entrevista do cineasta chileno-espanhol, sr. Alejandro Amenabar na Radio Cable e me surprendí muito com algumas de suas interessantes declarações: a) é impossível ganhar de zero. b) Internet se assemelha, em pleno século XXI, aos antigos cristãos no começo do primeiro milênio com sua imparável força revolucionária. c) Internet debe ser regulamentada para que uma meia dúzia de cineastas como ele mesmo, possam seguir fazendo filmes de 50 milhões de Euros (as cursivas refletem as declarações textuais do sr. Amenabar). Foi bastante inédito ouvir este senhor defender sem ruborizar seus privilégios e mais ainda a necessidade de “regulamentar a Internet” o que ele julga necessário para que seus filmes de orçamentos delirantes que jamais serão lucrativos no mercado europeu mas que ele considera necessário e um direito ser realizar-las.

Do que se trata agora? De revolução? Eu pensava que este tipo de conversa fiada tinha sido enterrada nos escombros da caída do muro de Berlim mas pelo visto não é assim não e até analogias com os cristãos derrubando o império romano está na ordem do dia. É espantoso e ao mesmo tempo muito elucidativo. Os estúdios de Hollywood e um punhado de cineasta bem posicionados no panorama europeu e ambiciosos de glória global, se esqueceram de suas rixas antigas e juntaram forças ao lado da ultra direita americana e dos governos mais autoritários da Europa para empreender uma verdadeira cruzada contra os novos “infiéis”, verdadeiros ladrões como são abertamente chamados pelas sociedades de arrecadação de direitos autorais em toda Europa. A única coisa que me vem em mente é que quando inimigos irreconciliáveis se ajuntam num esforço de guerra comum, a guerra já está irremediavelmente perdida. E então o que acontecerá? Todas as possibilidades estão abertas ao serem válidas todas as opções. Seguramente não veremos o apocalipse e o final dos tempos (e se o mundo acabar nada importará mesmo), e o cinema e a televisão seguirão existindo assim como o teatro e o ballet não foram extintos pelo cinema, o mesmo cinema que por sua vez não foi extinto pelo video e DVD. Sempre haverá público para o cinema.

Porém a realidade nua e crua é que todos ficaram loucos, já sejam estudios de Hollywood ou autores de duvidosa independência não porque o cine está morrendo. O cinema não está morrendo!!! O mercado de DVD sim, está na UTI em estado terminal. Nenhum filmão de Hollywood, nem de nenhuma outra parte que se diga, se pagou nas bilheterias depois de suas estréias com cópias de celulóide em 35mm. Desde o final dos anos 70! Todas somente obtiveram lucros graças ao video e ao DVD. Em aluguel ou com vendas diretas. Meios digitais, meios que hoje custam virtualmente zero.

Uma vez dito, senhoras e senhores: deixem de gritaria histérica pelo moribundo cinema (e salas de cinema) e chamem o burro pelo seu verdadeiro nome: ganhar dinheiro = vendas de DVD. Aluguel de DVDs. Mídia Digital. Direitos de Autor.

Este pequeno clip (em inglês) ilustra perfeitamente o novo paradigma que a industria cultural tem à sua frente:

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